25.8.14

um elogio das Américas

Meses, talvez até anos volvidos, existe um leitmotiv que não consigo deixar escapar, e que não resisto em partilhar neste blogue. Trata-se do amor aos Estados Unidos da América, essa grande Nação, que me chega de toda a parte ad nauseum. Vejo uma preocupante overdose de deslumbramento cada vez que a Clara Ferreira Alves faz uma reportagem dos subúrbios de lá, a Oprah vocifra algo, os hambúrgueres são promovidos à incrível condição gourmet e o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros assina os mais mirabulantes tratados transatlânticos.

Estas linhas que se seguem não correspondem a nenhuma crítica de costumes, tanto mais que este não é um hate site, como outros que por aí vegetam. Não odeio ninguém, muito menos um país que, nas palavras de Oscar Wilde, "passou da barbárie à decadência sem passar pela Civilização". E já que neste blogue só se tecem elogios, quero apenas aclamar aquilo que não é americano e que, pela ordem dos tempos, podia ter sido aprimorado no Novo Mundo mas que, afinal, não correu tão bem assim.

Muitas são as razões evocadas para legitimar a histeria americana. Que é do outro lado que nasceram valores como a Liberdade, a Tolerância e a Igualdade. Thomas Jefferson publicou, de facto, o mais visionário dos documentos, a Declaração de Independência. Mal saberia o senhor que, duzendos anos volvidos, todos os princípios seriam trespassados e moldados aos interesses mais lobbistas que Maquiavel poderia alguma vez imaginar. Só assim se explica que, num país de oportunidades, o Sonho Americano se tenha esfumado numa sociedade incrivelmente racista, classista e doente. Uma selva onde se morre mais cedo, porque o Seguro de Saúde não cobria aquele tumor malígno.

A história nos dois lados do grande charco toma dimensões distintas. Não deixa de ser surpreendente que a Europa Absolutista tenha sido palco de incessantes manifestações de vontade popular, que culminaram na concpção de um Estado Social. E mesmo entre as crises, todos os países europeus, os mais ricos e os mais pobres, têm mais igualdade social que a (ainda) denominada Super-potência Global. É por isso que o Estado-Providência, uma criação europeia, alicerçada na tradição religiosa, na caridade e na assistência e que permitiu realmente alavancar o nível de vida das pessoas, merece o meu mais sincero elogio.

Também a Europa se aburguesou, como é evidente. A partir do Renascimento, o que era rotulado de profano de forma proibitiva, ganhou um lugar maior nas Artes e nas Ciências e sofisticou-se. Nas Artes, surgiram novas formas de expressão Lírica ou novas Escolas de Pintura. Privilegia-se não só a mestria técnica, mas também as emoções estéticas, e a criatividade. A tradição cultural, alicerçada na Antiguidade, produz obras intemporais, algumas das quais seriam compradas por milionários americanos. Já no Novo Mundo, noção europeia, por sinal, a lógica mercantilista ditou padrões de obsolescência que se tornaram intrusivos, a ponto de ditar o aparecimento do entretenimento, essa sim, talvez a maior realização cultural dos Estados Unidos. Os espectáculos em Broadway esgotam-se e terminam ao fim de pouco tempo; os desenhos da Disney deixam pouco mais de uma geração a sonhar, e as baladas dos Chicago tornam-se inaudíveis ao fim de 20 anos. É que o Mundo, dir-se-á, acaba por mudar tanto que tudo fica esquecido, numa amnésia colectiva que torna as pessoas reféns do último Hit.

Quando se fala em sofisticação, os Estados Unidos dizem-se exímios em tecnologia. A ficção científica, talvez um género cinematográfico verdadeiramente americano, baseia-se nessa fixação pela tecnologia, pelo robô que não sente mas que, pela perfeição com que foi criado, domina a Terra e os seres humanos. Valoriza-se menos o lirismo, o erotismo e o valor dos sentimentos verdadeiramente humanos. Mas é importante frisar que até as grandes invenções tiveram palco na China, no Mundo Muçulmano e na Europa. Houve ainda europeus que, aliciados pelo salário, foram para os Estados Unidos fazer descobertas importantes, mas Einstein e Tesla não deixaram de sorver o conhecimento e ganhar mestria no Velho Continente. E não nos esqueçamos que o inventor da Internet é Europeu.

Mesmo com todas as restrições, a ascensão meteórica de um país novo não deixa de ser um mistério. Mas lá porque foi nos Estados Unidos que se lembraram de ir chupar o petróleo da terra, e onde os banqueiros se tornaram peritos em crises económicas e Crashes bolsistas para engordar à custa da raia miúda, nada disto significa que o poderio se mantenha por muito tempo. O Polícia do Mundo pode ser rico em porta-aviões, mas nada impede uma multidão de ficar à fome dentro das suas fronteiras por causa do furacão Katrina, perante a impotência das autoridades. Porém, no doloroso trilho da Decadência, os Estados Unitos têm ainda poder para arrastar o Velho Continente e o restante mundo Ocidental para a Barbárie.

Na encruzilada desta Guerra Fria de várias frentes, tudo parece ser efémero. Mas a Europa, tal como outras regiões do planeta, sabe mais por velha que por sábia. Talvez tenha chegado a hora de firmar as diferenças, em vez de continuar continuamente a pedir desculpa por existir.


21.9.12

Isolamento III

Perdoem-nos os atentos seguidores da nossa novela! Aqui se segue mais uma pequena contribuição, na esperança duma rápida continuação:

               Ao chegar ao chalé encontrou Augusto esticado no sofá twitando e actualizando o seu feed do facebook. Anselmo preparou-lhe a canja o melhor que soube. Coseu muito a massa e as carnes e no final juntou-lhes um bom fio de azeite e hortelã do jardim para dar sabor.  Serviu o prato e tratou de ir arrumar a cozinha.
               Augusto encontrava-se bastante melhor da sua enfermidade desde que soubera que tinha a ligação à internet de alta-velociade estava finalmente instalada. Todo o tempo que Anselmo demorara a impressionar a aldeia com as sinfonias classicas dos grandes mestres foi passado pelo novo inquilino do chalé a discorrer nos seus blogs de opinião. As possibilidades de interacção mundial permitidas pelo simples toque dum dedo eram para ele como uma montanha-russa vertiginosa. *Clique* Comprou aquele livro raro que andava a regatear no e-Bay. *Clique* Postou essa compra simultâneamente no Twitter e no Facebook. Em alguns segundos já tinha likes e coments de inveja e admiração. *Clique* Aceitou num pedido de amizade que tinha pendente. *Clique* Entra na visita virtual do Louvre, na plena comodidade da sua poltrona. *Clique* Visiona os dividendos dos seus investimentos. *Clique* Participa naquele concurso de fotografia. *Clique* Confirma a proxima viagem à Tailândia. *Clique* *Clique* *Clique* *Clique* *Clique* *Clique* *Clique* *Clique* *Clique* *Clique* *Clique* *Clique* *Clique**Clique**Clique* *Clique**Clique* *Clique**Clique**Clique* *Clique*.
               E tudo isto ao magnifico som de Caetano Veloso na sua interpretação da Paloma. Entretanto Ana informara-o que ia para a Martinica com Nuno e que só o poderia visitar daí a duas semanas, mas que não se preocupasse porque o hotel tinha wireless em todos os quartos e ela levava algum trabalho para fazer, de modo que estaria sempre on-line. De resto isso pouca importancia tinha para Augusto, porque nessa noite já tinha marcado um jantar à luz do ecran com uma outra amiga que conhecera na blogosfera. Do canto do da cozinha Anselmo reparava em tudo. Parecia-lhe o seu senhor passava demasiado tempo sentado agarrado aquele seu ecranzito portatil que usava para tudo. Quando foi levantar a canja aproveitou para meter a colher:
- Ó Senhor Augusto, não me leve a mal, mas quer-me cá parecer que o Senhor passa demasiado tempo aqui em casa sem sair. Então não é que esteve todo este tempo sentado a mexer nesse seu portátil sem nunca levantar os olhos das letras, nem para ver o magnifico pôr-do-sol que esteve? Eu acho que o Senhor devia sair e apanhar mais ar, conviver mais com as pessoas. Afinal que bem lhe faz vir para o campo e passar o dia sentado num sofá? Para isso ficava na cidade, que aqui deve-se é sair e apanhar ar, conviver!

de Dali

    Num mundo onde o tempo escasseia valorizo cada vez mais a capacidade de alguém suspender a sua visão quotidiana e colocar tudo em perspectiva. Cada vez mais vejo que o pensamento é toldado por questões práticas de Senso-Comum que o limitam a uma bengala na auto-estrada do pré-pensado. Não vejo ninguém valorizar o Belo por ser Belo antes preferindo explicações pseudo-intectuais para questões que devem ser encaradas numa perspectiva mais real e lógica.
    Deixo-vos esta entrevista de Salvador Dali. Apesar de parecer muito grande aviso que os primeiros 55seg bastaram para me prender a todo o resto. É uma entrevista à moda antiga bem conduzida em que Dali fala de diversos aspectos da sua vida e obra.
    Devo alertar os espectadores que será proferida uma quantidade extraordinária de afirmações aparentemente pouco coesas. No entanto parece-me curioso como alguém que se assume surrealista consegue pensar e agir de forma mais coerente do que muitos de nós... O seu pensamento não é regido pela habitual mistura de bom-senso, preconceito e ideal que nos tolda a todos. Pelo contrário Dali segue uma frieza idealista que não teme o resultado das suas conclusões analíticas e, como tal, não hesita em partilhar os seus resultados com o mundo. Dali usa a lógica pura, sem marcas, sem corrupção, e através dela molda todos os constrangimentos da lógica corriqueira transformando-os em Arte quando os expõe ao espectador. Talvez seja isso que faz dele um grande artista, essa capacidade única para captar aquilo que o nosso juízo comum não percebe e transmiti-lo de forma clara e e não impositiva.
   A isto eu chamo um exercício de estilo. Dali despoja os ouvintes das suas considerações vulgares e embarca-nos num mundo de simbologia crua e imperativa.

Entervista a Salvador Dali, parte 1
Entrevista a Salvador Dali, parte 2
Entrevista a Salvador Dali. parte 3
Entrevista a Salvador Dali, parte 4
Entrevista a Salvador Dali, parte 5
Entrevista a Salvador Dali, parte 6
Entrevista a Salvador Dali, parte 7
Entrevista a Salvador Dali, parte 8

1.9.12

Nordicamente falando

     A cada dia que passa, descubro algo que me transcende ou que, simplesmente, surpreende. Será normal viver-se numa cidade onde as caixas de correio são abertas, ao alcance de todos? Porque haverá, na universidade, de uma linha de atendimento para denúncias de discriminação ou favorecimento de alunos? E que achar das igrejas protestantes onde as mulheres casadas também dão missas? Há realmente algo diferente nestas paragens. 

     Vi, há dias, uma obra clássica de Rosselini: Stromboli, de 1949. Karin e António apaixonam-se num campo de refugiados da Grande Guerra. Ela é lituana (encarnada pela bela Ingrid Bergman), enquanto ele, de tez morena, é um pescador da ilha de Stromboli, no Mediterrâneo. Decidem casar-se, após o que ele a leva para casa.

     Chegando a Stromboli, o cenário é desolador. A terra é árida e escura e as casas, da cor da terra, estão quase todas ao abandono. Podia ser o Algarve recém-ardido ou uma aldeia remota de Trás-os-montes. As ruas labirínticas estão desertas e as casas, toscamente acabadas, não oferecem qualquer conforto. Karin permanece em silêncio, tal é o choque, após o que diz que não conseguirá viver naquele lugar. António responde que não têm alternativa.

     À medida que o tempo avança, tudo fica mais sombrio. Karin, deprimida pela solidão, conta com o padre da aldeia para conversar. Queixa-se das condições de vida, ao que ele responde que a vida é assim mesmo, cheia de contratempos, pelo que temos de aguentar, rezar e ter fé na salvação. Em casa, as discussões de casal aumentam de dia para dia, sendo motivadas por questões simples como a decoração da casa: António ofende-se sempre que Karin esconde as imagens de santos e os retratos de família. Perante a vizinhança, que só pensa em emigrar, a situação torna-se cada vez mais difícil, pois a beleza nórdica de Karin atrai a atenção dos homens e as esposas reagem asperamente, acusando-a de soberba, vaidade e arrogância.

     Karin sofre e não tem dinheiro nem condições para sair da ilha. Tenta surpreender o marido indo visita-lo ao trabalho, mas fica horrorizada com o espectáculo sanguinário que é a pesca ao atum. 

     A narrativa é arrastada e lenta, bem ao ritmo da Itália sulista. Existe porém uma questão pendente: quem irá ceder. Conseguirá Karen fugir ou adaptar-se à ilha, vivendo o amor da sua vida? Trata-se de um filme intemporal que versa sobre as disparidades entre a Europa do Norte e do Sul, divididas por aquele muro indelével que são os Alpes, que a Eurovisão, os Fundos Comunitários e os nossos Erasmus difícilmente farão desaparecer.

29.8.12

dos Semáforos



Hoje enquanto estava parado num vermelho na praça de Espanha vi um dos habituais vendedores da revista Cais. Sem hesitar socorri-me do maior dom das cidades, o anonimato, e fechei a janela. Não a fechei por ter medo de ser assaltado, nada tenho que possa ser de alguma utilidade para um pedinte e se tivesse dar-lho-ia de bom grado. Também não o fiz por achar que o senhor terá algum tipo de doenças facilmente transmitidas pelo contacto visual desarmado, de resto tenho sempre óculos postos. Fechei a janela porque estava a passar na rádio uma música de que gosto e estava a cantar e não me apetecia ser incomodado ou ouvido por terceiros.
                 Mas enquanto via o primeiro carro rejeitar a publicação senti um nó no estômago. Nesse carro tinham tido a frontalidade de rejeitar a oferta, eu queria simplesmente não a ver. Que mundo é este em que alguém prefere ficar sossegado a ouvir a sua música e ignora os necessitados que lhe batem à porta? Que maravilha é esta que domina as cidades e que nos torna tão indiferentes para com os outros? Lembrei-me que as cidades são as pérolas da nossa civilização. Nelas a vida cresce e floresce, cria-se arte, criam-se ideias. A Carta dos Direitos do Homem é, quanto a mim, um dos mais belos expoentes da nossa civilização. Nela admite-se a igualdade entre todos os Homens e respeita-se a vida. Como é então possível que eu, que sei tudo isto e que gosto de me ver como criatura civilizada, fui capaz de recusar o contacto com uma vida em troco de uma música que posso ouvir a qualquer momento?
                E como se deve sentir o senhor cuja vida depende daquelas poucas revistas que consegue vender? Como será passar os dias junto a um semáforo, a respirar os escapes dos milhares de automóveis que lhe recusam o sustento? Que tipo de sociedade experimenta ele? Provavelmente apenas uma que não se preocupa com os direitos dos prisioneiros de Guantánamo, mas não hesita em mostrar a sua indiferença, a até nojo, por aqueles que não foram abençoados com um sustento.
                Esta comparação aterrou-me. Na verdade preocupo-me mais com a humanidade no trato dos pecadores que com a humanidade no trato dos miseráveis! Mas como? Porque é que a tortura naqueles que mataram ou destruíram me parece desumana e fechar a janela do sustendo de um pobre me parece melhor do que perder a música? Felizmente ficou verde e fui poupado ao culminar das minhas reflexões. Mas temo que a verdade seja esta:
Nunca fui tão cruel ao carregar num botão.

23.7.12

duma Proposta de Futuro

Ontem estava com o propósito fito de publicar aqui um mail que recebi há alguns anos. Embora fosse uma corrente o conteúdo deste e-mail pareceu-me importante demais para o deixar passar, por isso imprimi-o e tenho-o guardado como se duma carta se tratasse. Agora reproduzo-o na integra, apenas com algumas correcções:

«Carta escrita em 2070:
    «Estamos no ano 2070, acabo de completar os 50, mas a minha aparência é de alguém com 85. Tenho sérios problemas renais porque bebo muito pouca água. Creio que me resta pouco tempo.
    «Hoje sou uma das pessoas mais idosas desta sociedade. Recordo quando tinha 5 anos. tudo era muito diferente. Havia muitas árvores nos parques, as asas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutarr de um banho de chuveiro de quase uma hora! Agora usamos toalhas embebidas em azeite mineral para limpar a pele. Lembro-me de como as mulheres mostravam a sua formosa cabeleira. Agora temos que rapar a cabeça para a manter limpa. Tantas vezes o meu pai lavava o carro com a mangueira, hoje os meus netos não acreditam que a água era usada dessa forma.
    «Recordo que haia muitos anuncias que diziam CUIDE DA ÁGUA!, só que ninguém lhe ligava, pensávamos que a água jamais se acabaria! Mal sabiamos nós que em alguns anos todos os rios, barragens, lagos e até os mantos aquíferos estão irreversivelmente contaminados ou secos. Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados.
    «Quantas vezes a minha mãe me mandava beber água, era recomendado que uma dulto bebesse oito copos por dia, devia tê-los bebido, pois agora só posso beber meio...
    «A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo. Tivemos que tornar a usar fossas como no século passado porque as redes de esgotos não funcionam sem água.
    «A aparência da população é horrorosa: corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pela feitas pelos raios ultravioletas que já não são filtrados pela camada de ozono. As infecções gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte entre nós.
    «A industria está paralisada e o desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam com água potável em vez do antigo salário. A água é tão valorizada que os assaltos por um bidão dela são comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética, sem água ou vitaminas. Pela pela ressequida um jovem com vinte anos parece ter quarente!
    «Os cientistas investigam, mas não há solução possivel! Não se pode fabricar água, o oxigénio também está degradado pela falta de árvores, o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações. Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos individuos, como consequencias há muitas crianças com insuficiencias, mutações e deformações.
    «O próprio ar é tão raro que o governo nos cobra pelo que respiramos, cerca de 137m^3 por dia por habitante adulto. Aqueles que não podem pagar pelo ar são retirados das "zonas ventiladas", que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam a energia solar. O ar não é de boa mas pode-se respirar.
    «Nalguns países retsam algumas manchas de vegetação com o seu respectivo rio. são fortemente guardadas pelo exército. A água tornou-se num verdadeiro tesouro, mais cobiçado que o ouro ou os diamantes. Infelizmente, onde vivo, não há árvores porque quase nunca chove, e quando chega a registar-se precipitação é de chuva ácida. As estações do ano têm sido severamente transformadas pelas experiências atómicas e pela industria contaminante do século XX,
    «Quando os meus netos me pedem que lhes fale de quando era jovem descrevo o bonito que eram os bosques, falo-lhe da chuva na nossa cara, das árvores, dos nossos banhos agradaveis e de poder pescar nos rios e barragens, bedendo toda a água que quisesse. Como eramos todos saudaveis!
    «Eles pergundam-me: Avõ! Porque é que se acabou a água?
    «Então, sinto um nó na gargante. Não posso deixar de me sentir culpado. Pertenço à geração que destruiu o meio-ambiente simplesmente porque não demos atenção a tantos avisos! Agora os nossos filhos pagam um preço demasiado alto pela nossa leviandade. Sinceramente, creio que a vida na Terra já não será possivel dentro de muito pouco tempo, porque a nossa destruição do ambiente chegou a um ponto irreversivel.
   
    «Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a Humanidade compreendesse isto, quando ainda podíamos fazer algo para salvar o nosso planeta Terra!»


extraído da revista biográfica "Crónicas de los Tiempos" de Abril de 2002

22.7.12

das Grandes Esperanças


    Hoje, quando chegava a casa do meu primeiro dia de férias, contava em sentar-me e publicar aqui uma carta que guardo há muito. No entanto os meus planos foram furados pelo próprio acaso, que tantas vezes nos favorece com surpresas inesperadas.
    A televisão estava ligada e por ela passou uma imagem de me captou a atenção. Tratava-se de uma sala decorada ao bom estilo ecléctico do século XIX embora num estado bastante decadente. Não podia ser melhor, sentei-me a ver um filme cujo conteúdo e nome desconhecia por completo. Embora não saiba ao certo porquê revelou-se uma excelente surpresa. Não sei se pelo aspecto decadentista da mansão onde se passa alguma da acção se o facto de algum modo de identificar com os personagens. De forma muito simples a história trata da vida de um rapaz que desenhava particularmente bem e a sua relação com uma bela e fria menina. Essa paixão fora plantada pela tia excêntrica da menina que a preparava para ser uma femme fatale e usou o rapaz para esse fim. A consequência disto foi que ambos desenvolveram um estranho amor do qual ela se evadia mas que ele exprimia em toda a sua arte. Embora não haja enredo por aí além, tem um final feliz, é de salientar alguma cenas de beleza inexprimível, como aquela em que o artista atinge o auge de todos os sonhos e se apercebe que nem assim conseguiu impedir o casamento da sua amada. Esta cena resulta num dialogo com a tia excêntrica onde esta se mostra arruinada pelo seu próprio maquiavelismo. 
    Talvez o facto de Gwyneth Paltrow, uma actriz que admiro imenso pela elegância desmesurada, ser a actriz no papel de mulher fatal e de aparecer a posar para um retrato nua contribua também para ter gostado tanto deste filme. Que mais não é do que uma revisitação do clássico com o mesmo nome de Charles Dickens, pelo realizador Alfonso Cuarón . em todo o caso penso que todos nós devemos lembrar-nos das nossas Grandes Esperanças (Great Expectations) uma vez por outra.