26.2.12

da Simplicidade


Há uns dias, durante o meu lanche aconteceu-me apanhar um programa no canal Odisseia que me pareceu interessante. Não é o meu tipo de programa predilecto, gosto daqueles que têm magníficos planos da vida animal, música bem escolhida e um narrador com voz bem colocada, mas como não tinha muito apetite nem tempo fiquei a ver. Já tinha apanhado um programa no estilo, embora nunca tenha visto um completo. Trata-se de uma série de estudos antropológicos feitos por uma mulher ocidental que durante um mês vai viver para tribos isoladas em África. É bastante fantasioso uma vez que a antropóloga, suponho que seja essa a sua profissão, insiste em tingir a pele do tom dos autóctones mas sem nunca alterar a tinta de cabelo, de loiro desbotado para negro. É ideal para lanches de dez minutos.
Desta vez apanhei um trecho em que ela comentava o sentimento de comunidade e união partilhado pelas mulheres da tribo africana em estudo. Deduzi que fossem poligâmicos e que estas mulheres fossem todas casadas com o mesmo homem. A narradora falava de como esta situação inicialmente a chocara, tanto mais que mal tinha chegado lhe quiseram arranjar marido, mas que agora compreendia melhor. Parece que mal as raparigas se tornam núbeis são casadas e rapidamente têm muitos filhos para criar. A sua vida gira em torno da manutenção da casa, da cozinha e dos filhos, ajudando-se umas às outras sem brigas ou disputas. Este facto admirou muito a narradora até ter compreendido que, de facto, elas não se sentiam vazias nem tinham qualquer tipo de necessidade de afirmação. Ela comentava que tinha entendido que estas mulheres, que vivem em total comunidade e cujas necessidades não vão além daquelas que são “naturais”, sabiam que a harmonia do seu dia-a-dia dependia dumas e doutras e, por isso, não perturbavam a ordem com futilidades.
Simultaneamente aparecia uma mulher, digo-o como expressão porque julgo que a rapariga não teria mais do que dezassete anos, ela comentava que não compreendia porque é que a Narradora, sendo uma mulher florida e com idade, não era casada e não tinha filhos. Esta mulher considerava a ocidental infeliz por estar demasiado preocupada com as acções. Explicava que ela queria perceber todos os costumes e acções da tribo e replicá-los na perfeição mas que não era capaz de sentir como elas. Sendo a indígena uma mulher de acção, logo ali explicou o plano que congeminara para tentar explicar isto à narradora: uma prima estava prestes a dar à luz, quando a criança nascesse levariam a ocidental a visitá-la.
Dito a feito, ainda vi como a ocidental ficou embasbacada com o recém-nascido e perguntava ao orgulhoso pai de oitenta e quatro anos se achava o filho mais parecido com ele ou com a mulher. No dia seguinte a Narradora estava alterada e dizia que aquela visita mudara a sua perspectiva de ver as coisas. Compreendera finalmente que aquelas mulheres eram felizes por estarem completas, por não preencherem as vidas delas com preocupações artificiais e necessidades fúteis. Tomara, inclusive, uma resolução: ia ter filhos! Aparentemente a sua irmã estava grávida, algures num país dito civilizado, e a narradora estava convencida de que seria muito bom para elas se pudessem criar os filhos juntas e criar uma comunidade como aquela que ela via ali, algures em África.
Não continuei a ver o programa, o meu lanche tinha acabado. Mas fiquei a pensar sobre isto. Não estaremos nós, os filhos da civilização ocidental, livres, iguais, ricos, a enganarmo-nos para preencher o vazio que estes adjectivos causam? Seria de supor que a igualdade e livre acesso aos bens de consumo, que a liberdade de acção e uma educação cuidada deveria fez de nós seres mais felizes e completos do que aqueles povos que em tempos escravizámos, por nos serem inferiores? Será que estes direitos talvez nos sufoquem mais do que impelem e, por eles, tenhamos necessidades que não são as verdadeiras Necessidades?
Fiquei curioso…

21.2.12

O Corso Carnavalesco!


No Entrudo o país pára. Como um aluno inquieto espera a importante visita dos três tios ricos que o vêm visitar. É importante não desapontar os tios, pois são eles quem pagam os estudos.
Sempre que o aluno precisa de alguma coisa pedincha de forma infrutífera, junto aos pais. Os pais, muito zelosos da opinião dos tios muito ricos, dizem ao aluno que se cale que não seja piegas. Mandam-no trabalhar! Afinal, nas últimas duas visitas dos tios era feriado e o aluno não trabalhou. Desta vez não pode ser assim! O aluno bem diz que a escola está fechada, que já tem o fato do Entrudo escolhido, quarto reservado em Torres, lugar marcado no corso… Os pais são intransigentes, além o obrigarem a passar fome e a despir-se acham por bem que ele tem que trabalhar, para agradar aos tios! O avô coitado, que quando fala mais valia entrar mosca, já veio dizer que os tios acham que o neto está a ser um bom aluno! Mas isto não lhe serve de nada. Afinal, quando acabar o curso, não terá trabalho nem na caixa de um super-mercado na Polónia! Os tios vêm. Os pais, aflitos, mostram-lhe tudo. Uma e outra vez até que os tios já perceberam muito bem que tanto os pais como o aluno vivem como cães. Isso agrada-lhes. Os tios velhos muito ricos têm destas coisas, adoram ajudar, mas se e só se, for feita a sua vontade! Que sorte! O aluno está mais magro e os pais tiram-lhe mais ainda! No final do desfile, aquele em Torres a que o aluno não foi. Aquele que deixou os quartos frios e as ruas vazias. Aquele em que os cabeçudos, figurinos e fanfarrões não estavam presentes, para que os tios ficassem contentes. Aquele que o aluno e os pais já tinham pago, mas que ficou inutilizado para conservar os trocos das bebidas habituais nestas ocasiões. No final deste desfile os tios, que até o queriam ver, mas que os pais não deixaram dizendo que era brejeiro, foram embora deixando a sua aprovação. E o aluno pode voltar ao seu estudo, obedecendo a pais piores que as velhas e ao avô que vive do dinheiro que tem guardado na gaveta das cuecas.
Que alegria, os tios não nos aumentaram os juros!

18.2.12

Carne Vale

É esta a expressão latina por trás da onda de poluição. Entre a purpurina que entope a sarjeta, as serpentinas que enforcam pardais ou as latas amigas do ozono, escolher é difícil! Correm tornados de porcaria nas ruas; engrossa o mar do lixo da Califórnia e ninguém leva a mal. Nem mesmo o senhor deputado senador Al Gore, que por estas alturas deve estar à procura do seu disfarce conveniente. E se há verdades que podem ferir as susceptibilidades ao ponto de serem consideradas inconvenientes, uma delas é a dificuldade de um ser minimamente humano deixar comer carne.

A questão é particularmente delicada; se fores vegan, sikh ou fizeres as compras no Martim Moniz, sugiro que não leias as palavras que se seguem.

Aqui vão as verdades alegadamente inconvenientes, aquelas que qualquer apreciador de lombo da vazia apreciará. É que, segundo a tradição (judaica, claro está), é no carnaval que podemos comer carne, talvez um dos únicos prazeres carnais dos tempos que se seguem. É pelo menos essa a mensagem que um primeiro-ministro devia compreender em tempos de crise. Nem se imagina o que o talhante de Benfica lucraria se houvesse carnaval e o povinho tivesse suficientemente capitalizado para a compra de carne! Não me refiro a entranhas ou miudezas, por renderem pouco. Quem é que quer orelha de porco, hein? Essas partes devem ir para a reciclaije ou para a ração dos bichos. Salsicha, vulgo salchicha, também é coisa de pobres.

A carne tem de ser vermelha, exuberante e importada. Bem embalada no celofane, tem de vir do Brasil (com o paladar das queimadas devoradoras da Amazónia), ter os nervos finos e ramificados e uma cor intensa. Nem que seja à custa das lâmpadas avermelhadas do Intermarché, esse grande sítio dos frescos. O povinho quer alcatra; já nem se contenta com o bitoque a sair da borda do prato. Um bom bife tem de ser na pedra, de mostarda, pimenta, café ou mesmo à potuguesa. Ninguém pede Kobe, basta algo que possa ser considerado, segu(i)ndo os padrões dos antigos anúncios do Pingo Doce, "bem ao gosto português".

A finesse leva-nos a escolher vaca ou carne mascarada. É esse o carnaval que nos interessa.

15.2.12

Dos Excertos

 Aquilo que é bom nos clássicos é a sua capacidade imensa de nunca envelhecerem.

"Vedes que estou imitando os retóricos do nosso tempo, que se julgam uns deuses pelo facto de serem bilingues como as sanguessugas, e que julgam preclaro imiscuir no discurso latino algumas palavras gregas, compor um mosaico que nem sempre vem a propósito. À falta de palavras exóticas, vão buscar quatro ou cinco fórmulas arcaicas aos pergaminhos pútridos, ofuscando com trevas os olhos do leitor, para que assim os entendedores mais orgulhosamente se deleitem e para que os ignorantes tanto mais admirem quanto menos compreendam. Pois é bem certo que todos encontram prazer no que lhes é mais alheio e distante. A vaidade está nisso interessada; riem, aplaudem,movem as orelhas como o asno que quer desse modo mostrar que compreendeu: «É assim mesmo, é tal e qual»."

11.2.12

Falta de Tempo I

Temo que os três conspiradores careçam de tempo para aqui vir. Para vos entreter deixo duas músicas, na esperança de que as palavras delas vos agradem.


8.2.12

da Fantasia Científica


Ontem acabei de ler o livro mais recente das Crónicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin, editado em Portugal com o título: Os Reinos do Caos. Confesso-me um grande admirador tanto desta saga de fantasia como do género em geral, embora deva dizer que fui incapaz de ler o Brisingr e a Herança por estarem demasiado mal escritos. Tenho um prazer especial em imaginar cenários diferentes daqueles do meu quotidiano e sempre gostei de me imaginar a viver numa época passada num mundo por descobrir. Do mesmo modo gosto bastante de ler ficção científica. Fascinam-me as minuciosas descrições de Júlio Verne e as suas histórias que parecem simultaneamente tão antiquadas e tão inovadoras.
Ora, um destes dias estava eu numa livraria num Centro Comercial, é uma vergonha bem sei mas juro que não é um habito, e olhava para os escaparates. Reparei, como sempre, que os estilos de literatura estão separados por escaparates, mas o que me chamou a atenção foi a exagerada semelhança  do género da fantasia. Parece-me pobre que um género que é notoriamente fantasioso tenha as suas regras tão definidas que todas as suas obras se assemelham atrozmente. Lembrei-me que o pai deste género foi Tolkien, com a sua ambição de recriar as lendas celtas existentes na Grã-Bretanha antes da invasão Normanda. Mas depois do seu sucesso não vejo razão para que os autores do estilo não tenham variado mais os ambientes e não vejo razão para não o fazerem no futuro.
                E foi isto que me deu uma ideia. Porque não uma saga fantástica passada num ambiente futurista? Brinquemos com um exercício de estilo. O leitor pode pegar na história d’O Senhor dos Anéis, em que Frodo atravessa a Terra Média para salvar os seus habitantes da sombra, e A Máquina do Tempo, de H. G. Wells, em que um cientista da Belle-Epóque viaja para o futuro e o encontra habitado dois duas espécies de hominídeos: aqueles que descendem a boa sociedade e que são belos mas pouco inteligentes, e aqueles que descendem do proletariado que são mais inteligentes e hábeis mas que temem a luz. Agora, por mero capricho, imagine-se uma fusão destas duas histórias mas em que o tempo e locais de acção são a actualidade.
                Certamente seria curioso mostrar o nosso mundo como um sítio dominado por estranhas criaturas (porque não inspiradas nas actuais tribos urbanas?) em que Enormes Centros Comerciais seriam como os Palácios escavados de Mória e em que os maus eram controlados por velhos humanos cujos poderes seriam a sabedoria e a mortalidade e cujos bons eram os descendentes ciber-biónicos dos nossos brinquedos humanóides. As torres Petrona podiam perfeitamente ser antros de onde dragões sem alma coleccionavam riquezas e os nossos Museus arsenais de artefactos mágicos (mesmo ao estilo Elder Scrolls). E, já agora, o céu seria amarelo mostarda, da poluição, e a causa da desavinda poderia ser o bem mais precioso, a água, mas com um nome qualquer mais sofisticado como: Augá.
                Deixo aqui a sugestão, qualquer escritor inspirado por esta divagação deve sentir-se livre para utilizar esta base. Em retorno só peço que eu possa ler!

7.2.12

Na Real Gana

Sempre quis imaginar como seria o nosso peculiar país se 5 de Outubro tivesse falhado. Em vez de ser o Darth Vader a hastear a bandeira em 2010, o rei D. Manuel II podia te-lo feito em 1910, depois de ter voltado do cais da Ericeira, aliviado por saber que a agitação da carbonária e os confrontos na Avenida da Liberdade não tinham passado de um falso alarme.

Se assim tivesse sucedido, um rei, quiçá o sucessor Dom Duarte Segundo, de cognome O Farfalhudo ou O Bon-vivant, falaria à nação da varanda poente do Palácio da Ajuda. Depois de um ataque de gaguez - porque, por influência inglesa, a gaguez passou a ser moda - espera-se que o rei apareça. Momento de suspense. Na televisão, parou o futebol, a missa de Fátima e as escolhas do Marcelo (porque a semana vai a meio e ainda há livros para mostrar).

El-rei vai soltar a sua goela doirada. Os fotógrafos da Caras estão lá em baixo, vagueando entre os eléctricos da Carris e um ajuntamento de ciganos do bairro social vizinho. Estão de lentes em riste, ansiosos por apanharem sua sumidade, a quem a mãe chamava Dudu, enrolando o bigode de monárquico. Mas o rei nunca mais aparece na varanda. Correm rumores de que o seu secretário está à espera da pen USB do ministro das finanças, com o sempre fatídico Orçamento de Estado. Mas não é isso que a multidão vê: pela calçada da Ajuda sobe um impressionante exército de automóveis. São Volvos, Mercedes e BMW's, todos da mesma cor. Os coches ficaram lá em baixo, é preciso que o rei decida o que fazer ao faraónico e magnífico museu alegadamente feito para os receber. Certo é que os vidros grossos e escurecidos não deixam desvendar os rostos que seguem. Há quem diga que são os mais de 300 duques e os 1500 marqueses com os respectivos chauffeurs.

O sol põe-se na cidade dormente. A Judite e a Manuela acotovelam-se, falando em directo para as câmaras e entretendo os espectadores. Falam dos recentes escândalos com o Procurador. Parece que o Barão de Avintes aconselhou o Duque de Gondomar a processar o Estado, porque o rei ainda não foi lá de TGV, pelo que a linha ainda não foi construída. O Marquês da Reboleira também deve ganhar um processo; ao fim de 15 anos deverá ser reconhecida a injustiça que é a atribuição de um título de nobreza tão desprovido de charme.

Chega o rei à varanda, em pompa e circunstância. O microfone funciona bem e faz-se ouvir.

- Portuguesas e portugueses, d'aquem e além mar, falo-vos como vosso Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, ex-Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia. Vivemos num momento difícil e exigente, em termos reais, absolutos e relativos. Mas não devemos relativizar a questão. O dinheiro que recebo não dá sequer para pagar o jardineiro e tenho porcelanas de Cochim da Fundação Real Gana para restaurar. Cientes do inegável valor patrimonial destas peças, únicas do mundo, iremos aumentar os impostos. Apelo ao bom senso dos portugueses; deveis saber que não voltarei a decretar aumentos de impostos e, em contrapartida, até ofereço a cada criança um computador, o Álvares Pereira 2.0. Desejo-vos um feliz natal, o melhor que alguma vez tenham tido.

Na Boca do Inferno, ainda há quem venda souvenirs. Será que as bandeiras made in china têm pagodes no lugar dos castelos? É difícil imaginar um cenário a azul e branco. Certo é que as canecas com a esbelta figura do rei estampada continuam a ser um sucesso, juntamente com os postais da Sissi.

6.2.12

do Jubileu de Diamante da Rainha de Inglaterra

   Faz hoje, precisamente, sessenta anos que a Rainha Isabel II se tornou a cabeça do Império Inglês. Sinto que poderia cair na tentação de aqui fazer um apanhado dos grandes momentos do seu reinado, das crises que atravessou, das mudanças que assistiu. Mas eixo isso para furos jornalísticos de hora e meia... Na verdade o que me espantou não foi o facto de a Senhora ser Rainha ao triplo do tempo que eu sou eu, ou mesmo o facto de nas notas parecer tão jovem.
   Não. Espantou-me o facto de, se a Senhora ganhasse tanto como o Presidente da Republica Portuguesa teria hoja, ao fim de sessenta anos de poupança, €2 160 000 de dívida(isto admitindo, por mero exercício de estilo, que o Senhor Presidente ganha €7 500 e gasta €10 00, o que não é verdade). Esta divida teria, caso a Rainha tivesse haveres em portugal, poderia ver-se engorada pelo corte nas reformas da coroa. Só posso dizer uma coisa sobre isto: É triste! Esta dívida de tão grande que é, seria facilmente coberta com a venda de um qualquer quadro antigo com o qual a Senhora antipatize.
   Esta pequenez é, de facto, muito infeliz, mas ainda assim provoca-me pruridos e maior escala. Senão vejamos: admitindo que a senhora conseguia guardar os €7 000 que o nosso Presidente aufere teria, ao fim de sessenta anos de lavor, €50 400 000 o que, mais uma vez, nem dá para comprar um quadro de Cézanne aos congéneres árabes.... Isto envergonha-me. Como é possível que um chefe de estado cuja vida total pouco maior é do que os anos de servidão de outro, não tenha tomado este outro como exemplo máximo de vida? Afinal nunca se ouviu dizer que a Rainha andasse a pedir emprestado ou a empenhar jóias de família e quando, aqui há uns anos, o governo britânico decidiu cortar-lhe a ela e à família (o que é grave, porque estão todos no mesmo negócio) os rendimentos anuais não se viu ninguém (com excepção talvez da ex-ciumenta Sarah Ferguson) queixar-se dos cortes não lhes darem para as despesas!
   Afinal é apenas justo que cada um queira o melhor para si e para os seus, mas talvez fosse inteligente, em vez de queimar dinheiro no BCP casar um neto...

D'O Artista' II

Não quero tentar sequer igualar a crítica do filme que aqui foi feita. Apenas quero fazer alguns apontamentos deste belíssimo filme que está em exibição. É que, por momentos, fui transportado para uma sala totalmente diferente, sem as orgias sensitivas dos efeitos especiais do 3DMax e bandas sonoras estridentes, com o mesmo horror ao silêncio que pauta o quotidiano na actualidade. Durante este filme mudo conseguia ouvir o suster da respiração ou as gargalhadas do público, imaginar a entoação das falas ou abanar a cabeça com o ritmo contagiante de uma banda sonora que podia ter sido tocada pela banda do Benny Goodman.

Há vários filmes mudos que são recentes, como é o caso do Habla con Ella, do Almodôvar. Há também filmes que prestam homenagem à ditosa época do cinema mudo. Woody Allen não podia ficar de fora dessa leva nostálgica, com Rosa Purpura do Cairo - filme que retrata maravilhosamente o ambiente de uma sala de cinema por alturas da Grande Depressão.

Não me recordo, porém, de filmes mudos que prestem homenagem a toda uma época - ideia que, a ser inédita, tem mérito. Nesse aspecto, todo o filme é coerente. Diria mesmo que, apesar da expectativa inicial, conseguiu surpreender-me desde o começo, quando o George Valentin diz, através da frase entre aspas sobre fundo preto,

"I Cannot Speak".

Ao longo do filme, pomo-nos na pele dos actores que, como sabemos, acabaram a carreira quando o cinema mudou de paradigma, talvez não tanto pelo afonismo, mas porque a voz seria estridente ou mal colocada. Todavia, o enredo é algo ingénuo, não sendo típico do cinema mudo. Remete, acima de tudo, para filmes algo posteriores, como Citizen Kane (a cena em que o magnata lê, ao pequeno almoço e com a esposa, a sua reputação desfeita nas gordas do jornal) ou Sunset Boulevard (um dos meus filmes preferidos, do qual me lembrei pelas referências feitas ao amor puro, desapego ao dinheiro e à gratidão).

Não posso deixar de mencionar o desejado bigode do George Valentin, claramente inspirado no Zorro que nos aparece no filme mudo de 1920. A Bérenice Bejo fez um excelente papel, sendo a sua fisionomia mais que adequada para representar a beleza dos anos 20.

Resta-me então recomendar este filme para todas as idades; será um desperdício se a maioria do público continuar a ser composto maioritariamente por gente saudosista.

4.2.12

d'O Artista'

   Não passou ainda uma hora desde que saí do fantasmagórico cinema onde fui ver o novo filme retro: O Artista. Sou admirador de filmes clássicos, não necessariamente a preto-e-branco, ou musicais ou grandes épicos cinematográficos. Para mim um filme clássico é um filme que exprime em si mesmo um certo modo de pensar e exprimir sensações através do grande ecran. Mas guardo em mim uma grande admiração pelo cinema primordial, aquele que é tão mudo que os Cinemas tinham pequenas orquestras a tocar ao vivo, e que é tão antigo que as imagens tremem e estão salpicadas de anos.

   Isto não se deve a nenhuma preferencia por esta estética, ou por desejos revivalistas. Acontece que o meu gosto em geral foi educado por uma avó que insistiu em mostrar-me aquilo que melhor há em todas as artes. Os filmes que via em criança eram principalmente Charlot, ao ponto de eu saber de cor todos os filmes (o que, graças aos céus, já não acontece!). No entanto isto habituou-me a olhar para os filmes e vê-los com os meus olhos. É por isto que gosto tanto de cinema mudo, porque te todas as fórmulas é aquela que maior margem de manobra deixa ao espectado uma vez que a a individualidade de cada um dá os toques ao filme. É como um livro em que a acção e as personagens são descritas, mas em que o leitor os imagina sempre de acordo consigo mesmo. De modo inverso o cinema mudo mostra-nos os locais e personagens, desenrola a acção visual, mas deixa-nos imaginar a eloquência com que é feita e permite-nos adivinhar coisas pela expressividade dos actores.

   Por outro lado gosto de filmes a preto-e-branco pois, geralmente, têm um enorme cuidado de fotografia, planos e luz, dado que os nossos olhos não são distraídos pela cor. Além disto o constaste provocado pelas luzes para simular profundidade de campo, a atenção à plasticidade das superfícies, à movimentação dos cenários e até a forma como a indumentária e maquilhagem são empregues é tão mais notória nestes filmes que quando são bons, são um enorme deleite para os meus olhos.

   Pois bem, era tudo isto que eu esperava ver neste filme. Uma revisitação de um clássico sem pretensões a ser algo mais. E foi isso mesmo que vi. Não quero falar do argumento, que é tão kitch como devia ser, para não estragar surpresas que ainda possam acontecer. Mas posso falar do resto. A Banda sonora é agradável e singela, sem grandes requintes própria para este tipo de filmes. Mas o seu emprego é muito cuidado, a acção está sincronizada com o compasso da música (característica que muito prezo no estilo) mas é com mestria (e direi até um certo savoir faire muito bem estudado) que os momentos de silencio são escolhidos. Na verdade julgo que nunca num cinema consegui sentir a sala num silencio opressivo de respiração cortada enquanto um beijo romantico é projectado no ecran. A ideia de cortar completamente o som nos momentos em que o ruído seria maior foi um toque de génio que imprimiu em mim a perfeita consciência de que toda a equipa sabia o que estava a fazer.

   Quanto à fotografia está também muito boa, a luz é utilizada de forma muito apropriada, os planos são bem escolhidos, é explorado o potencial da ausência de cor para atingir planos e reflexos impossíveis noutra situação. Isto é notório numa mudança de plano que parte do artista e acaba com a imagem dele reflectida não só no tampo da mesa como no whisky que tinha lá sido derramado. De resto nada mais podia desejar de um realizador vindo do bom vale do Reno e da fértil Île-de-France. Por fim creio que devo salientar ainda dois momentos muito interessantes. Aquele em que num sonho do artista todos os objectos e pessoas falam e têm ruídos, menos ele. Julgo que nesta cena a angustia do silencio é muito bem expressa pelo turbilhão de som que fere os ouvidos mas pela total ausência da voz humana. Ouvem-se passos, telefones, relógios, cadeiras, pés a arrastar, até o vento sopra enquanto o actor grita todas as entranhas da sua alma. Mas não se faz ouvir. Fiquei estarrecido. Um outro ponto será tão simplesmente o final, em que, por fim, se ouve a voz de alguém embora o silencio seja tão perfeito e necessidade tão pouca que se torna quase um contra-senso. Mas parece-me que este momento serve para fechar o filme em si mesmo, como aquilo que é: uma revisitação de um clássico.

Dali e Disney

   Bastou-me a imagem inicial para perceber que iria gostar desta curta. A sequência conta-nos a história de Cronos e de um amor impossivel pela mortalidade. Iniciada há cinquenta anos esta curta-metragem animada foi feia numa colaboração entre Dali e Walt disney, sendo notória a conjugação da mestria de ambos no resultado final.

3.2.12

Disfrutemos pois, que assim é!

Dez horas da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada;
Pelos jardins estancam-se as nascentes,
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada.

Rez-de-chaussée repousam sossegados,
Abriram-se, nalguns, as persianas,
E dum ou doutro, em quartos estucados,
Ou entre a rama dos papéis pintados,
Reluzem, num almoço, as porcelanas.

Como é saudável ter o seu conchego,
E a sua vida fácil! Eu descia,
Sem muita pressa, para o meu emprego,
Aonde agora quase sempre chego
Com as tonturas dumas apoplexia.

E rota, pequenina, azafamada
Notei de costas uma rapariga,
Que no xadrez marmóreo duma escada,
Como um retalho de horta aglomerada,
Pousara, ajoelhando, a sua giga.

E eu, apesar do sol, examinei-a:
Pôs-se de pé: ressoam-lhe os tamancos;
E abre-se-lhe o algodão azul da meia,
Se ela se curva, esguedelhada, feia,
E pendurando os seus bracinhos brancos.

Do patamar responde-lhe um criado:
“Se te convém, despacha; não converses.
Eu não dou mais.” E muito descansado,
Atira um cobre ignóbil, oxidado,
Que vem bater nas faces duns alperces.

Subitamente — que visão de artista! —
Se eu transformasse os simples vegetais,
A luz do sol, o intenso colorista,
Num ser humano que se mova e exista
Cheio de belas proporções carnais?!

Bóiam aromas, fumos de cozinha;
Com o cabaz às costas, e vergando,
Sobem padeiros, claros de farinha;
E às portas, uma ou outra campainha
Toca, frenética, de vez em quando.

E eu recompunha, por anatomia,
Um novo corpo orgânico, aos bocados..
Achava os tons e as formas. Descobria
Uma cabeça numa melancia,
E nuns repolhos seios injetados.

As azeitonas, que nos dão o azeite,
Negras e unidas, entre verdes folhos,
São tranças dum cabelo que se ajeite;
E os nabos — ossos nus, da cor do leite,
E os cachos de uvas — os rosários de olhos..

Há colos, ombros, bocas, um semblante
Nas posições de certos frutos. E entre
As hortaliças, túmido, fragrante,
Como dalguém que tudo aquilo jante,
Surge um melão, que me lembrou um ventre.

E, como um feto, enfim, que se dilate,
Vi nos legumes carnes tentadoras,
Sangue na ginja, vívida, escarlate,
Bons corações pulsando no tomate
E dedos hirtos, rubros, nas cenouras.

O sol dourava o céu. E a regateira,
Como vendera a sua fresca alface
E dera o ramo de hortelã que cheira,
Voltando-se, gritou-me prazenteira:
“Não passa mais ninguém!... Se me ajudasse?!”...

Eu acerquei-me dela, sem desprezo;
E, pelas duas asas a quebrar,
Nós levantamos todo aquele peso
Que ao chão de pedra resistia preso,
Com um enorme esforço muscular.

“Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!”
E recebi, naquela despedida,
As forças, a alegria, a plenitude,
Que brotam dum excesso de virtude
Ou duma digestão desconhecida.

E enquanto sigo para o lado oposto,
E ao longe rodam umas carruagens,
A pobre afasta-se, ao calor de Agosto,
Descolorida nas maçãs do rosto,
E sem quadris na saia de ramagens.

Um pequerrucho rega a trepadeira
Duma janela azul; e, com o ralo
Do regador, parece que joeira
Ou que borrifa estrelas; e a poeira
Que eleva nuvens alvas a incensá-lo.

Chegam do gigo emanações sadias,
Oiço um canário — que infantil chilrada! —
Lidam ménages entre as gelosias,
E o sol estende, pelas frontarias,
Seus raios de laranja destilada.

E pitoresca e audaz na sua chita,
O peito erguido, os pulsos nas ilhargas,
Duma desgraça alegre que me incita,
Ela apregoa, magra, enfezadita,
As suas couves repolhudas, largas.

E como as grossas pernas dum gigante,
Sem tronco, mas atléticas, inteiras,
Carregam sobre a pobre caminhante,
Sobre a verdura rústica, abundante,
Duas frugais abóboras carneiras.

Cesário Verde



A metáfora da fruta (e derivados) é um dos processos semânticos que mais me fascina. De facto, se a fruta não tivesse uma miríade de conotações, a língua portuguesa seria triste e enfadonha. Diria até que o PIB nacional entraria numa queda ainda mais profunda, com a insolvência ou emigração da comunidade de artistas pimba. Que seria do Quim Barreiros sem o sucesso estrondoso de Vendedor de Frutas? Ou mesmo a Rosinha sem o incrível vídeoclipe Só quer é fruta.. Morriam à fome. Cãodenados à carência alimentar, a imaginação esfumava-se e deixavam de ter acesso a um campo semiológico de inegável riqueza.

Semanticamente nutritivas são as courgettes; o kunámi, funini e o maracaté, a beringela ou o marmelo. Este último tem muito que se diga, pelas palavras a que, através da marmelada, deu origem. Repara como ninguém tem uma relação pacífica com esta substância doce: sabe muito bem, deixa um paladar característico e duradouro na boca, sem dar alguma vez a sensação de saciedade. A marmelada pode saber bem mas não enche e, em caso de abuso, enjoa facilmente.

Ainda assim há muito para escolher: Marmelada fina ou grossa, marmolite, marmex, marmota ou marmalade. Note-se que Doce de Marmelo é algo totalmente diferente da marmelada e semanticamente mais pobre. Como todas as compotas, de um modo geral... Compotas são da avó, aqueles frascos de vidro com a tampa candidamente oculta com um tecido vermelho e branco aos quadrados e um lançarote. É fruta mastigada que, apesar de pegajosa, não tem formas nem consistência. A geleia, todavia, contraria esta regra. Talvez seja pela textura ligeiramente diferente, tendencialmente gelatinosa, que, a saber, deve-se à pecticina da fruta. Ah, e ainda temos o mel, que poderá ser relatado com mais minúncia num destes dias.

A questão da fruta pode tornar-se delicada quando a questão da forma é levada in extremis. E isto é bastante sério. Não será certamente correcto ofender um cidadão chamando-lhe "figo" ou falar, em contexto algum, de fruta fora de época (não querendo especificar, para não ferir as susceptibildiades do/a leitor/a). Mesmo a questão do tomate (e subprodutos) é bastante polémica, razão pela qual não irei enverdar por aí.

Como poucas espécies escapam à sina da metaforização vernácula, uma simples enumeração chegará para conter potenciais obscenidades: pêssegos ou ameixas, bananas ou feijões, ginseng ou taínha? Perdão, acabei de enumerar uma espécie piscícola. Também não vou por aí. Já nem se pode ir ao mercado pedir "o mais verde que houver" ou "o maior que tiver".

Prefiro dedicar-me à apreciação de vinhos. Ficará sempre bem elogiar a cor de cereja e o aroma frutado do néctar.

1.2.12

A fruta é como as pessoas

     As pessoas são como a fruta. Sim! Por mais estranho que pareça é a melhor metáfora que me surgiu para exteriorizar a ideia que pretendo. A dificuldade que há para se conhecer alguém. Afinal todos nós temos guardas contra a intrusão alheia. Como é difícil conhecer as pessoas eu falo de frutos porque são mais sumarentos que os vegetais!
    Todos os dias observamos dezenas de pessoas porém conhecemos poucas. Pessoalmente nunca provei uma líchia e quando vou ao supermercado nunca caí na tentação de comprar. Isto deve-se provavelmente ao facto de a não ter provado e de não saber que não vou gostar. Da mesma forma não tenho por hábito falar com hipsters. No entanto admito que o hipster que não conheço possa ser uma pessoa mais ignorante do que quer parecer. Um hipster é tão diferente de um nigga como uma cereja de um melão. Pessoalmente não sei escolher melões, fechados parecem todos iguais! E admito que os pele de sapo não têm um ar tão tentador. Os melões só depois de abertos é que se revelam e o mesmo acontece com os niggas. No entanto mesmo depois de conhecido o nigga este pode revelar ser uma autêntica cabeça de melão! Da mesma forma que um melão é o nigga, o mesmo se pode dizer que um figo de piteira é uma pessoa de muito mau humor. Já um dióspiro com a pele a estalar de maduro será uma pessoa extremamente afável. No entanto pode revelar-se vazia depois de procurada. A casca representa apenas a realidade física sendo que o caroço representa aquilo que interessa com a excepção do morango que é uma pessoa com os sentimentos à flor da pele porque tem as sementes no exterior.
    As frutas têm várias partes e dependendo do grau de profundidade que atingir poderei dizer que uma pessoa é amiga ou conhecida. Portanto uma cereja, que tem pouco conteúdo, é uma pessoa fácil de conhecer. Já alguém dizia que o seu toque era como os lábios de uma donzela… Assim, o nigga é uma pessoa extremamente difícil de conhecer! Pois tem muito conteúdo para atravessar. Talvez seja por isso que tenho medo deles.
    Deste modo, como um amigo meu costuma dizer, a fruta é como as pessoas!

Formatação

Caía a noite. Na escuridão crescente, a cidade ganhava luz, cor e movimento. Quem se atrever a subir ao cimo das paredes frágeis daquele moinho, verá a anatomia da urbe. Mas naquele momento desenhavam-se as artérias, as veias e todos os raminhos capilares, que alastram para a escuridão incerta e caótica dos campos em redor. Tudo isto em movimento, num fervilhar sem fim e, aparentemente, sem finalidade. Não, a cidade não pode parar. Tempo é dinheiro, dinheiro é mercadoria, e o rebuliço não tem fim.

Dentro de cada luz frenética, que vagueia na capilaridade urbana, há um (e raramente mais que um) ser pensante. Mas quantas pessoas pararão para pensar sobre o sentido daquilo que fazem? Bem, uma hora passada sobre o asfalto da Avenida do Brasil dará certamente para ouvir, na rádio, os últimos desamores e a última casa do Cristiano Ronaldo, impressionar a dáma com os baixos das colunas, enchouriçar o tabaco, ligar os néons azuis para iluminar as fugas de óleo sobre a estrada, fornecidas pela garagem chunning ou simplesmente buzinar "na desportiva". No meio de tanta mediania, é natural que certos artistas queiram furar o esquema, através de brilhantes performances, seguindo na berma, no passeio ou no separador da avenida, apenas para terem os cinco minutos de fama que o Andy Warhol lhes reservou.

Fala-se de tempos difíceis. Vejo, porém os carros na rua e um presidente da república a viver acima das suas possibilidades e tão abonado como o tuga médio. A verdade é que, havendo pobreza, pode não haver miséria. E aqui falo de duas noções distintas, que convém esclarecer. Um indivíduo pode ser pouco abonado, dono de parcas quantias monetárias. Pode até passar fome, sem ser miserável. Porque a miséria prende-se com a falta de valores culturais, isto é, a falta de estima ou o desprezo pelas origens, pela cultura e pelo meio envolvente. Com materiais humildes, o templo xintoísta de Yasaka não será de todo miserável. É que, ao contrário das latrinas dos castelos medievais, feitos com os mesmos materiais, segue proporções harmoniosas e integra-se no meio natural, como se tivesse brotado antes de a Terra nascer. Já o Centro Comercial Colombo, o Loures Shopping, a igreja Caravela ou o hotel Bellagio de Las Vegas são espaços miseráveis, que testemunham a apatia, a falta de valores e de paz interior; nem com remodelações escapam ao poder inexorável do bulldozer.

A apatia corre o risco de se apoderar da mole humana. Há mesmo multidões adormecidas ao duche quente ou a ver as Tardes da Júlia e a Casa dos Degredos. Pessoas com as mordomias do duche quente e vazia no prato, a quem nada falta. Senão repara, para o capitalismo, não interessa que alguém morra à fome. Isso seria chato. As vendas (de pace makers) diminuiriam. Basta, portanto, que as pessoas tenham dinheiro para comprar cds da britney spears ou beber coca-cola.

Acredito que podemos, com menos recursos, suprimir a miséria. É talvez por isso que vamos à mesma faculdade...